Você sabe o que está comendo?

Ilustração: o_soo_lemio

Você sabe o que está comendo?


Esta quinzena quero trazer aos leitores uma pergunta e um desafio. A pergunta é: você sabe o que está comendo? Quando compra uma simples bolacha de água e sal ou come seu pão francês com margarina, você acha mesmo que sabe o que está ingerindo? Posso afirmar que é mais, muito mais que farinha, água, gordura, sal e fermento. Esses seriam os ingredientes que iríamos ingerir se estivéssemos comendo um pão caseiro ou uma bolacha saída do nosso forno. Mas, a partir do momento que optamos pela praticidade dos industrializados, muitas outras coisas adentram a nossa boquinha. Nem todas ruins, claro, mas muitas delas questionáveis.

Estou falando dos aditivos alimentares.  Eles estão em tudo, menos na água mineral, espero. São necessários. Não se pode produzir em larga escala sem colocar uma química para evitar o mofo, por exemplo. Aquele pãozinho de forma, hein? Há mais de 15 dias nas prateleiras do mercado e ainda macio, úmido e sem nenhuma pintinha de bolor. Não é milagre. É aditivo. E aquele iogurte de morango, cor-de-rosa, perfumado e delicioso, com o sabor da fruta. Só que o morango mandou lembranças e passou longe do potinho. A cor, o cheiro e o sabor são aditivos. Até mesmo na maçã (acabei de pegar uma na geladeira e me lembrei), aquela casca brilhante é resultado de uma cera, que protege e dá brilho. Mas é aditivo.

Afinal, quem são eles, os aditivos? Segundo a Anvisa, são todos e quaisquer ingredientes adicionados intencionalmente aos alimentos, sem o propósito de nutrir, mas com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais durante a fabricação, embalagem, armazenagem, transporte ou manipulação do alimento. O uso desses produtos é permitido pelo Decreto n° 55.871 de 26/03/1965. Nesse decreto, estão listados 11 tipos de aditivos. Vamos conhecê-los rapidamente?

1. Acidulantes
São aditivos que aumentam a acidez de um alimento. Podem ter diversas funções, como dar sabor ácido (azedo) ao alimento, regular o PH para evitar proliferação de bactérias e até fermentação. Entre os principais acidulantes estão o ácido lático, ácido cítrico, ácido fumárico e o ácido fosfórico.

2. Antioxidantes
Têm a função de preservar os alimentos retardando a deterioração, preservando as gorduras e a coloração. Há dois tipos de antioxidantes: os naturais e os sintéticos. O extrato de alecrim é um dos naturais e o ácido ascórbico é um dos sintéticos.

3. Antiumectantes
Os antiumectantes são utilizados para que o alimento fique mais sequinho e crocante por mais tempo. Os mais usados são o dióxido de silício, o carbonato de cálcio e o alumínio silicato de sódio.

4. Umectantes
Ao contrário dos antiumectantes, os umectantes são aquelas substâncias que evitam que o alimento perca umidade, ficando ressecados. Alguns exemplos são o propileno glicol, glicerol, sorbitol, além do lactato de sódio.

5. Conservantes
Também chamados de conservadores, aumentam o tempo de vida útil dos alimentos, protegendo-os de bactérias e fungos. Entre os conservantes naturais estão o sal, o cravo da índia e a canela. Entre os sintéticos temos os propionatos e os sorbatos, bastante utilizados na panificação e confeitaria!

6. Corantes
São substâncias que dão cor ou intensificam as cores de bebidas e alimentos. Alguns são naturais, obtidos de folhas (couve, repolho), raízes (beterraba, cenoura), frutas e especiarias. Mas a maioria dos corantes são artificiais e, apesar de liberados pela Anvisa, estão ligados a estudos que sugerem efeitos negativos para a saúde, como alergias, asma, hiperatividade infantil e até câncer.

7. Edulcorantes
São substâncias adoçantes, naturais ou artificiais. Entre os mais conhecidos estão o aspartame, a sacarina, o ciclamato e a stévia, comumente utilizados em adoçantes artificiais ou em refrigerantes light ou diet.

8. Espessantes
Aumentam a viscosidade dos alimentos, melhorando a textura e a consistência. Usados em gomas de mascar, iogurtes, sorvetes, molhos e geleias. Os mais utilizados são a goma xantana, provinda de bactérias, a gelatina à base de colágeno animal e o ágar-ágar, extraído de algas vermelhas.

9. Espumíferos e antiespumíferos
São substâncias que inferem na produção de espumas, intensificando, estabilizando ou impedindo a formação da mesma.

10. Estabilizantes
Os estabilizantes mantêm a homogeneidade dos produtos, impedindo, por exemplo, que a gordura se separe do líquido de uma sopa. Esse aditivo também aumenta a viscosidade, evitando a cristalização dos alimentos. Um dos estabilizantes mais comuns é a lecitina de soja, conhecida por estabilizar misturas de água e óleo, a caseína, a goma guar, e a goma xantana.

11. Flavorizantes
Dão ou intensificam aromas e sabores. Estão nas bolachas recheadas, sorvetes e doces que têm sabores de frutas. Ao invés de se utilizar o extrato natural das frutas, a indústria usa os flavorizantes sintéticos, mais práticos e baratos. Assim, ao invés de maçã, usa-se o acetato de etila, por exemplo. Já o butanoato de butila substitui o morango nos preparos com este sabor.

Agora que já conhecemos algumas das substâncias que ingerimos junto com os alimentos, vem o meu desafio. Quero desafiá-lo, caro leitor, a ler a lista de ingredientes dos produtos que compra. É um grande desafio, eu sei. As letras estão cada vez mais miúdas. E o lugar onde estão escritas? Experimente ler os ingredientes de um copo de requeijão, por exemplo. Não raramente está na tampinha, junto com outras informações como o endereço da fábrica e outras coisas e tal. Tem que forçar a vista e ficar girando o copo para tentar ler.

E eu te pergunto: por que é tão difícil assim? Por que dar tanto trabalho ao consumidor? Eu posso imaginar mil motivos, e um deles, meus caros, é que o fabricante não quer que a gente leia os ingredientes. Talvez porque ele tenha medo de você ficar com medo de comer aquilo tudo que está escrito ali, porque a gente nem sabe do que se trata.

Não foram poucas as vezes que desisti de comprar um produto porque resolvi ler os ingredientes. Requeijão cremoso, gelatina em pó, bolachas e muitos outros. Quer um exemplo mais detalhado? Refresco em pó. Eu confesso que acho saboroso e prático. Mas confere lá a listinha dos ingredientes se tiver uma lupa. Só corante, adoçante e sabor artificial. E o fabricante tem a cara de pau de anunciar que tem suco fruta no preparo. E tem mesmo, na proporção de 0,03%, no caso do Tang. Para que falar que tem fruta né, gente? Para que passar a imagem de que é um produto saudável, se não é.

Aliás, os refrescos em pó e um monte de outros produtos que ingerimos nem são classificados como alimentos. São substâncias comestíveis, que horror! Ingerir algo só porque é comestível. Já parou para pensar nisso? E o quanto é difícil, aí na sua casa, fazer uma limonada, hein? Apertar três limões em um litro de água e, se quiser, adoçar a seu gosto. Ou fazer um chá mate e deixar na geladeira. Ou beber água ao invés de um monte de porcaria.

O meu desafio é este: pense antes de comer qualquer coisa. Veja se é mesmo necessário dar vez ao industrializado e ultraprocessado ao invés do caseiro, do simples, do saudável. Vai dar trabalho? Um pouquinho. Mas vai valer a pena.

 

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